<em>Sabes que existe una isla,<br> la isla de la Sal, <br>y Tarrafal en ella vierte sombra?</em>
Dossier Nos 70 anos do Campo de Concentração do Tarrafal
«…Pero,
portugués de la calle,
entre nosotros,
nadie nos escucha,
sabes dónde está Álvaro Cunhal?
Reconoces la ausencia
del valiente Militão?
Muchacha portuguesa,
pasas como bailando
por las calles
rosadas de Lisboa,
pero,
sabes dónde cayó Bento Gonçalves,
el portugués más puro,
el honor de tu mar e de tu arena?
Sabes que existe una isla,
la isla de la Sal,
y Tarrafal en ella
vierte sombra?
Sí, lo sabes, muchacha,
muchacho, sí, lo sabes.
En silencio la palabra
anda con lentitud pero recorre
no sólo el Portugal, sino la tierra…»
Pablo Neruda, La lámpara Marina
O fascismo assassinou Bento Gonçalves
«O português mais puro»
Entre as preciosas vidas de antifascistas que o Tarrafal ceifou, conta-se a de Bento Gonçalves, secretário-geral do PCP, assassinado em Setembro de 1942. Afirma o Avante! de Novembro desse ano que «não foi uma biliosa que matou Bento Gonçalves, como não foi a doença que matou muitos outros lutadores antifascistas que morreram já no Tarrafal. Foi o governo fascista que matou Bento Gonçalves, porque a biliosa e a falta de socorros médicos fazem parte dos sinistros planos do fascismo para assassinarem os antifascistas presos no Tarrafal».
«Ele era – afirma o artigo – o dirigente político incontestável do nosso Partido e a figura mais prestigiada de todo o movimento antifascista. O nome de Bento Gonçalves evoca logo as mais belas qualidades de herói filho do povo: inteligência esclarecida, dedicação sem limites à causa dos trabalhadores, modéstia, honestidade.»
A morte de Bento Gonçalves, prossegue o Avante!, «incita-nos a lutar com mais energia, incita-nos a intensificar em todos os campos a nossa actividade, incita-nos a lutar contra os fascistas, seus assassinos». «Nós não perdoaremos aos fascistas estes crimes, não lhes perdoaremos o assassínio do nosso querido camarada Bento Gonçalves.»
Bento Gonçalves nasceu a 2 de Março de 1902 no concelho de Montalegre, em Trás-os-Montes. Filho de camponeses, cedo começa uma vida dura de operário. Primeiro como torneiro de madeiras e, em 1919, como torneiro mecânico no Arsenal da Marinha, em Lisboa. Em 1927 integra uma delegação operária do Arsenal que visita a União Soviética. Dois anos mais tarde, participa na Conferência Nacional do Partido, na qual se inicia a reorganização do PCP. É eleito secretário-geral e o Partido inicia a sua luta ilegal contra o fascismo.
Deportado em 1930, regressa à luta em 1932. No ano seguinte inicia a vida clandestina. Em 1935, participa no VII Congresso da Internacional Comunista, em Moscovo. Ao regressar ao País, é preso. Em Janeiro de 1936 é deportado para a fortaleza de Angra do Heroísmo. Depois de «julgado», é enviado para o Tarrafal em Outubro.
A actividade política de Bento Gonçalves não terminou com a sua prisão. Do Tarrafal, lança orientações para a reorganização do Partido que se levava a cabo em Portugal e trava uma dura luta contra os cisionistas no Campo. Gravemente doente, acabou por morrer em Setembro de 1942.
Como se afirmou nessa mesma edição do Avante!: «Caiu um herói proletário. Mas fica dele um exemplo heróico. E fica o caminho que ele apontou: o caminho da luta inflexível e sem tréguas, o caminho da dedicação que não conhece outro limite senão a morte. Seguiremos resolutamente por esse caminho e nenhumas dificuldades nos afastarão dele.»